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Autobiografia de princesa Isabel vira livro. Veja fotos

Maria de Fátima Argon e Bruno da Silva Cerqueira reuniram 20 anos de pesquisa sobre o período da transição da monarquia para a república

Alegrias e Tristezas: Estudos sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil
Alegrias e Tristezas: Estudos sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil -
Maria de Fátima Argon, historiadora e arquivista, e Bruno da Silva Cerqueira, historiador e advogado, reuniram 20 anos de pesquisa sobre o período da transição da monarquia para a república. A obra já foi lançada em Petrópolis e Rio de Janeiro (RJ); Brasília (DF) e São Paulo (SP), Belo Horizonte e Juiz de fora (MG), além de Lisboa, Portugal.

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Alegrias e Tristezas: Estudos sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil Acervo Arquivo Grão Pará - Divulgação
Alegrias e Tristezas: Estudos sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil Divulgação
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Alegrias e Tristezas: Estudos sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil Divulgação
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Uma produção editorial bastante rara de ser encontrada nas livrarias brasileiras. “Alegrias e Tristezas: estudos sobre a autobiografia de D. Isabel do Brasil” é considerado o livro mais longo já escrito sobre a “Princesa Isabel” e um trabalho minucioso conduzido pelos valentes autores e historiadores Maria de Fátima Moraes Argon e Bruno da Silva Antunes de Cerqueira.
O Instituto Cultural D. Isabel a Redentora, sediado na capital federal, e a editora Linotipo Digital de São Paulo, foram os responsáveis pela edição de tão completa pesquisa histórica.

O livro, fruto de mais de vinte anos de pesquisas, contém muito material inédito para os leitores que, nas últimas décadas, foram apresentados a uma princesa ora alienada, ora inapta e, por fim, praticamente ausente do processo que levou ao fim da escravidão no Brasil.
Fátima Argon, que por mais de trinta anos foi pesquisadora do Museu Imperial na Cidade Imperial, sendo responsável pelo Arquivo Histórico da instituição, em Petrópolis, mostra no texto sobre a “escrita de si” no percurso biográfico da “Redentora”, que ela era plenamente ciente de sua missão enquanto herdeira da coroa e futura imperatriz.

“Mesmo de modo discretíssimo, a Princesa agiu pelo fim da escravidão mais de uma década antes do 13 de maio de 1888. Evidências disso são as honrarias concedidas aos homens que pudessem fazer algo não somente pelos negros, mas pelos pobres em geral. As moedas de troca eram comendas das ordens imperiais e, algumas vezes, títulos de nobreza, o que ela chamava de ‘tartines’, que significam ’confeites’ ou ‘badulaques’, em cartas à Condessa de Barral”, comenta Fátima.

Mas o texto vai além, deixando claro que a princesa-herdeira jamais foi marionete nas mãos de D. Pedro II ou do marido dela, o difamado Conde d´Eu. De acordo com as historiadoras Teresa Maria Malatian, da UNESP, e Lúcia Maria Paschoal Guimarães, da UERJ (colaboradoras da obra), trata-se de rico material sobre um dos temas mais enigmáticos da história brasileira: a transição da Monarquia para a República.

“A historiografia sobre a futura imperatriz foi enviesada por olhares masculinos, depois reproduzido até por historiadoras. Por outro lado, o catolicismo de D. Isabel é esmerilhado, sendo compreendido como parte de sua legitimação social enquanto governante e, também, de uma cosmovisão cristã que impregnava todos os seus atos”, acrescenta Bruno Antunes de Cerqueira, historiador, advogado, indigenista da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e fundador do Instituto Cultural que leva o nome da biografada.

Ponto alto dos estudos que Bruno chama de “isabelistas” é identificar que o golpe da República em 1889 não foi contra D. Pedro II e sim contra a filha, que no Pós-Abolição poderia ter sido a real garantidora dos direitos dos negros, governando em companhia de Joaquim Nabuco, André Rebouças, José do Patrocínio, Rodolpho Dantas, Franklin Doria, Alfredo Taunay, Affonso Celso Junior e, até, de Machado de Assis, além das mulheres que ela já “empoderava”, como suas amigas Amandinha Doria (Baronesa de Loreto) e Mariquinha Tosta (Baronesa de Muritiba).

Influência da imperatriz exilada

Documentos inéditos mostram que mesmo do exílio D. Isabel influiu na vida social brasileira, de modo restrito. Foi dela a “promessa”, em pleno momento do banimento da Família Imperial, de que no alto do Corcovado seria erguida uma estátua de Jesus.
Suas súditas fiéis, no Rio de Janeiro, sobretudo a filha do Almirante Tamandaré, idealizaram o Cristo Redentor, na década de 1900, algo que absolutamente nunca se comentou. O monumento teria uma estátua em tamanho menor da princesa, como “redentora” do Brasil, o que ela mesma não incentivou.

O texto de Bruno A. de Cerqueira mostra ainda que, na França, a “imperatriz exilada do Brasil” trabalhou sempre pelas causas sociais e que seu nome era de absoluto prestígio nos movimentos de remissão de pessoas escravizadas na África.
Até Marcel Proust a teria conhecido e nela teria se baseado, em parte, para idear a sua “Princesa de Parma”, uma das mais curiosas personagens de “Em busca do tempo perdido”.

A formação da princesa também ganha destaque em “Alegrias e Tristezas”, provando que estudou a vida toda, e que seu pai dizia que para ela se educar era que ele tanto se dedicava aos estudos. Um dos muitos fatos curiosos do exílio na França é saber que o mais importante professor de piano de D. Isabel, o maestro afro-cubano José White y Latiffe, que ela nomeara diretor do Conservatório do Rio de Janeiro, a acompanhou no banimento, sendo uma espécie de “mestre de capela” de sua corte, em Paris e no Castelo d´Eu.

Por fim, revela-se que a adesão à República de 1889 não foi grandiosa como se acredita e que muitos nobres, sobretudo os titulados pela princesa em suas regências, morreram desgostosos, no ostracismo, sem jamais ingressar na política.